sexta-feira, 6 de julho de 2012

Entrevista a Fátima Lopes


Já lhe trouxemos algumas partes da entrevista feita pela Noticias TV a Fátima Lopes, agora pode ver a entrevista completa aqui no Mais Televisão.


Já tropeçou nas saudades?
Está a falar de que tipo de saudade? Qualquer saudade?
Não, falo das saudades da SIC. Já passaram dois anos desde que saiu e se mudou para a TVI.
Ah, isso (risos). Não, não tropecei nas saudades da SIC. Não sou uma mulher muito dada à saudade. Tenho, sim, saudades das pessoas que fazem parte do meu ciclo afetivo. Sou tipicamente portuguesa e, por isso, sofro muito com saudades, mas no que toca ao trabalho sou bastante mais pragmática.

Mas chegou à TVI com uma mala cheia de memórias e experiências vividas na estação de Carnaxide...
Não sou nada de viver a vida a olhar para trás, acho que isso não nos ajuda a evoluir. Tenho as melhores recordações da SIC, jamais esquecerei esses 16 anos. Foi na SIC que nasci, me formei e que aprendi absolutamente tudo o que sei. Estou muito grata às pessoas que apostaram sempre em mim e me ajudaram a crescer. Mas tudo isso foi uma etapa e que já passou.
Está serena e segura de que tomou a decisão certa?
Sim. Foi a decisão certa, disso tenho a certeza. Absolutamente.

Qual o balanço que faz da condução destas emissões especiais no canal de Queluz de Baixo? É aqui que tem um contacto direto com o público.
Quando analiso os projetos que me têm apresentado, a forma como trabalho dentro da casa TVI e quando vejo a oportunidade que me foi dada, desaparece qualquer dúvida que pudesse desenvolver. Fui convidada a apresentar o programa A Tarde É Sua, que era um programa que tinha uma tradição muito forte e que, como se sabe, teve condução da Júlia [Pinheiro] e eu fui muito bem apoiada. Tive a sorte de poder trabalhar com uma equipa fortíssima, onde estão pessoas com quem já tinha trabalhado na SIC e que são grandes profissionais. Percebi, logo ali, que estavam criadas todas as condições para fazer um programa de sucesso. Quando há sinceridade nas pessoas à nossa volta para perceber o que é preciso para um apresentador fazer bem o seu trabalho, as coisas correm bem. E este ano estou também a conduzir os especiais de verão. Esta é a primeira vez que saio do estúdio para correr o País e que é algo que nunca tinha feito.
Trata-se de seis horas de emissão em que estou em Bragança, na Mealhada ou em Albufeira... É um desafio extraordinário e apertado para um maratonista de televisão e eu acho que sou maratonista de televisão. Agradeço muito à TVI por me ter feito este desafio e me ter tirado de estúdio.
Era, portanto, um sonho que guardava?
Queria cruzar-me com as pessoas e ouvi-las dizer o que sentem quando veem os meus programas, ouvir as suas opiniões. Este é o tipo de feedback que não conseguimos retirar quando se lê o e-mail e cartas. Estar aqui como estamos as duas a conversar é muito importante para um apresentador de televisão, e eu há anos que não saía do estúdio. A TVI sentiu que eu precisava de ir para a rua ver as pessoas e o público ver-me a mim.
A TVI soube reagir? Concedeu-lhe o desejo que a SIC não soube identificar?
Na altura, a SIC não tinha projetos desta natureza e só depois é que os veio a ter. Quando me ausentei para dar à luz o meu filho Filipe foi quando a SIC fez o programa SIC ao Vivo, e eu encontrava-me de licença de maternidade. Até essa altura, a SIC não tinha essa tradição. Eu estava há muitos anos fechada em estúdio e isso é uma coisa claustrofóbica.
O que ganha enquanto comunicadora?
As seis horas de direto são uma sova, mas são uma sova física porque é tudo tão bom. Imagine o que é estar em cima do palco a conduzir a emissão e, na hora do intervalo, vem ao meu encontro uma velhinha, de 80 anos, trazer-me umas botinhas de lã porque sabia que eu ia estar na sua terra. Isto é absolutamente delicioso e é uma recompensa muito grande pelo nosso trabalho. É por este grande desafio que a TVI me lançou, este ano, e por outros motivos de que já falei que sei que tomei a decisão certa. Eu sou feliz e uma pessoa tem de estar feliz e realizada. Se não estiver feliz no meu trabalho, sou competente mas não o faço com alma.
Sentiu que estava a estagnar por estar dia após dia a trabalhar no estúdio?
Sinto que estarmos sempre no estúdio não nos permite crescer tanto como poderíamos. E sei que tenho capacidade para crescer e aprender muito mais, tenho essa vontade. Sou extremamente humilde, não acho que sei tudo por ter quase 18 anos de profissão. Ir para o exterior fez-me ver que há toda uma mecânica que nós em estúdio não sabemos e é preciso aprender.
Nada nem ninguém a desiludiu durante 24 meses de vivências na TVI?
Não. Acho que me adaptei muito rapidamente e eles também se adaptaram bem a mim. A TVI percebeu que sou superexigente na forma de trabalhar, que não gosto de amadorismo de espécie alguma e eu percebi como é que esta casa funciona. É uma casa de porta aberta onde se pode falar diretamente com as pessoas sem adiar para o dia seguinte. Todos nos entendemos nas nossas regras e isso faz que as coisas fluam.
Tem repetido, durante a nossa conversa, os elogios à TVI. Pergunto-lhe: gostava de ficar 16 anos na TVI como ficou na SIC?
Sim, gostava de ficar na TVI por 16 ou até mais anos. Se ainda estiver a fazer televisão (risos). Sim, porque a idade vai passando...
"Na SIC senti que não tinha condições para servir bem o público"
Se a SIC lhe tivesse oferecido este mesmo programa, teria aceitado? Teria ficado?
Não. Se a SIC me tivesse oferecido este programa não teria ficado na estação. Encaro a vida de apresentadora como se fosse uma "missão", é assim que vejo o meu trabalho. Não olho para o estrelato nem para o mundo cor-de-rosa. A minha missão é servir bem as pessoas e, para isso, tenho de ter condições para o fazer. Oferecerem-me um programa destes sem ter condições, não iria fazer bem o meu trabalho.
Identifico uma segunda mensagem nas suas palavras. Está a afirmar que não teve condições para trabalhar na SIC? Sentiu que não estava a ter as condições necessárias para servir o público?
Sim, sentia que não tinha condições para o fazer. Não guardo mágoas de espécie alguma. As condições que a casa me oferecia eram aquelas. Hoje são diferentes e até, eventualmente, melhores... Essas condições não davam. Teve que ver com recursos, quer para mim quer para uma equipa trabalhar.
Mas ao que se refere? O que é que falhava?
Faltavam recursos, mas as coisas entretanto melhoraram. Na altura, não tínhamos recursos suficientes. Não havia recursos de todos os tipos. Portanto, quando é assim, não é fácil motivar uma equipa porque não há recursos para trabalhar. Estava a sentir-me impotente. Se não consigo servir bem as pessoas, estou a defraudá-las.
Quis oferecer mais aos telespetadores e não estava a conseguir fazê-lo na SIC?
Sim, queria e não estava a conseguir. Não preciso de nada de extraordinário, só preciso de servir bem as pessoas. A Tarde É Sua é um programa que serve bem as pessoas. Temos capacidade de fazer boas reportagens, de dar boas respostas no estúdio de produção, se necessário, e era isso por que ansiava. por servir bem as pessoas, aquelas que vêm até nós. Quando isso não está a funcionar, é uma enorme frustração como apresentadora. Estar linda e maravilhosa no ecrã e sorrir não chega. É preciso fazer realmente alguma coisa para mudar a vida das pessoas. Hoje, consigo fazer isso. É talvez por isso que chego a casa com o coração consolado. Tenho a sensação de dever cumprido e isso para mim é fundamental.
A SIC é uma porta fechada para si?
Não faço futurologia. Sei lá eu... A única coisa a que sei responder é: "Está bem na TVI? Estou" ou "Está feliz? Estou!"
E se a SIC crescer e se afirmar no futuro como estação mais forte, vai pensar de outra forma?
Só mudo se não estiver feliz onde estou. E não é o dinheiro que me move...
Muito se falou sobre o ordenado que lhe ofereceram na TVI...
Se olhar para todo este processo, é o menos importante, sinceramente. Se a SIC alguma vez tiver todas as condições do mundo, e eu estiver bem na TVI, porque é que vou mudar? Eu sou bem tratada. Iria fazê-lo só para dizer que mudei? Isso não acrescenta nada à minha vida.
Apresenta, de segunda a sexta-feira, o programa A Tarde É Sua. O que mais a realiza na condução do programa?
Realiza-me ter noção plena de que mudamos a vida de muita gente.
Como prepara as emissões? Qual é o método?
Por norma, é à noite que me sento e leio as matérias. E, quando o programa tem uma duração de três horas, leio também de manhã. Quando o programa tem muita informação complementar é preciso ler mais.
Como olha para as audiências conquistadas?
Estamos a meio do ano de 2012 e, apesar de todas as alterações de horário que já aconteceram, continuamos líderes. Apesar das "guerras" entre os medidores de audiência, Marktest e GfK, mantemo-nos líderes. Um programa não é um apresentador. O apresentador é só uma peça e eu sempre tive essa noção. Nunca achei que era a última Coca-Cola no deserto.
Mantém o hábito de meditar antes de entrar em estúdio?
Sim, é uma prática que tenho há 14 anos.
Quando descobriu a meditação? Onde e com que frequência costuma fazê-lo?
Descobri a meditação quando comecei a fazer formação na área pessoal e aprendi a usar o potencial da nossa cabeça. É muito importante para mim meditar porque me encontro e coloco a minha energia no sítio certo. Faço-o durante uns dez minutos antes de entrar em estúdio. E quando estou em casa, faço-o, por exemplo, quando o meu filho está a dormir a sesta.
Meditar ajuda-a a ser uma apresentadora melhor?
Meditar ajuda-me a ser uma pessoa melhor e isso reflete-se em todos os campos da nossa vida. Quando meditamos, reencontramo-nos e, se nos reencontramos, estamos no nosso eixo. Ao estarmos no nosso eixo, as coisas só podem correr bem. Através da meditação encontrei o meu caminho. Aprendi a perceber a nossa cabeça, o que é que significam as coisas que nos acontecem ao longo da vida, a entender como as palavras e os pensamentos podem ser destrutivos. Aprendi uma série de ferramentas que, ao serem aplicadas no meu dia a dia, são extremamente úteis.
Sente que vive de mais o trabalho?
Não. Procuro ser o mais equilibrada possível porque se viver em excesso o trabalho significa que estou a descurar outras áreas da minha vida, como, por exemplo, a minha vida familiar, e isso faz-me infeliz. Não posso viver só para o trabalho porque fico infeliz. Sinto falta dos meus filhos, do meu marido... Tenho de sentir a minha vida presente. Eu explico: nesta fase em que tenho a responsabilidade de conduzir estes especiais da TVI, tenho vários cuidados. Se o direto decorre numa localidade longe, procuro sair o mais tarde possível de casa. Se é transmitido numa cidade perto de Lisboa, vou no próprio dia. Faço uma gestão do meu tempo de maneira a que os meus filhos não sejam prejudicados. Preciso muito de os sentir ao pé de mim.
Estaria disponível para acumular outro projeto televisivo que a obrigasse a trabalhar ao fim de semana, como já o fazem os apresentadores Manuel Luís Goucha e Cristina Ferreira, que conduzem o concurso musical A Tua Cara Não Me É Estranha aos domingos?
É uma questão de organização e, normalmente, estes formatos têm um timing definido. Aliás, a TVI sabe que há essa disponibilidade da minha parte. Eu só não tenho feitio para... Eu nunca fui pedir: "Eu gostava de..."
Porque...
Acho que quando se chega a uma casa nova como eu cheguei é preciso tempo de ambientação. Não se pode chegar e querer "este e o outro" mundo. A casa não nos conhece e nós ainda não provámos nada. Eu posso até trazer 16 anos de experiência, mas ainda não provei nada na TVI e tenho de provar primeiro. Não é por ser a Fátima Lopes que chego aqui e é tudo para mim. Estes dois anos foram de adaptação e serviram para conhecer o meu chão. O programa está a liderar, como sempre sonhei, o público adaptou-se muito bem e já me vê naquele horário e isso era o meu objetivo número um. E, portanto, a partir de agora já posso pensar noutras coisas. O que noto na TVI é que há projetos de carreira para os apresentadores e isso é importantíssimo, nunca ficamos desmotivados.
Acredita que não se sentirá desmotivada na TVI?
Acho que não o vou sentir porque, o que noto, é que aqui eles têm consciência de que nós não podemos ficar reféns de um horário. Lá porque tenho sucesso à tarde não quer dizer que nasça e morra a fazer aquilo. Há esta consciência de nos darem projetos que mexam connosco, que nos façam renovar e sentir adrenalina.
À frente das câmaras, Fátima Lopes assume uma postura segura e firme. Pergunto: o que gostava de corrigir e melhorar como apresentadora?
Sinceramente, nada. Gosto de mim como apresentadora porque sou fiel à minha pessoa. Gostaria de corrigir algo em mim se eu tivesse criado um boneco televisivo. Mas como a pessoa televisiva é a mesma... Só se corrigisse algo no meu feitio, mas aí teria de pedir aos meus amigos para falar (risos).
É uma crítica? Acha que há muitos apresentadores na televisão que usam bonecos televisivos?
Os que eu conheço bem, digo-lhe que não. O José Figueiras, a Rita Ferro Rodrigues são assim na televisão e fora dela... Na TVI, o Manuel [Luís Goucha] e a Cristina [Ferreira] são assim... (risos)
As "patetices" televisivas como gatinhar em palco, imitar vozes de animais, que Cristina Ferreira e Manuel Luís Goucha já protagonizaram em A Tua Cara Não me É Estranha, TVI, são válidas?
Eles estão a borrifar-se para o que as pessoas pensam e para as que se armam em puritanas ou politicamente corretas. E acho que é um dos segredos do sucesso deles. As pessoas estão fartas de gente certinha. Eu, por exemplo, sou uma apresentadora com um estilo mais clássico, mas se tiver diante de mim um convidado mais dado à anedota, eu alinho. Eu cá fora também adoro andar na galhofa.
Então não receia que a TVI a desafie a fazer este tipo de figuras?
Eu não acho que o Manuel [Luís Goucha] e a Cristina [Ferreira] façam figuras ridículas. Acho, sim, que fazem o que lhes apetece. A TVI não impõe estilos, contratou-me para eu ser como sou e para o Manuel e a Cristina serem como são. Se, um dia, eu tiver um formato de entretenimento, serei eu própria. Eu sou mais clássica na forma de entrevistar, mas se olharmos para a forma como a Cristina e o Manuel fazem entrevistas também são conversas sérias. Eu não sou nada cinzentona, ando sempre na galhofa.
"Gostava de fazer um programa de homenagem"
Está em antena com o programa A Tarde É Sua. Que formato gostava de conduzir a seguir na TVI?
Gostava de fazer um programa de homenagem a figuras de todos os quadrantes da nossa sociedade. A ideia era fazer uma homenagem com uma entrevista de vida que fizesse um retrato completo de todas as fases marcantes do convidado. Este é um sonho ainda por realizar.
E que convidados gostaria de homenagear?
Não vou falar de nomes, porque existe tanta gente que merecia e que atua nas mais diversas áreas como a saúde, a política ou a música. As homenagens devem ser feitas em vida. E refiro-me até a figuras que podem já não estar entre nós. Por exemplo, a Rosa Lobato Faria é uma mulher que admiro imenso e cuja escrita é apaixonante.
"Inveja", então, a apresentadora Catarina Furtado... É ela quem, por esta altura, está a homenagear vários portugueses através do programa Com Amor se Paga, exibido aos sábados na RTP1.
Não, não invejo a Catarina [Furtado]. Já vi o programa e percebe-se que, dadas as caraterísticas do formato, não se permite que se faça uma entrevista mais aprofundada. Não dá para fazer uma conversa intimista. As homenagens são feitas, ali, a um ritmo acelerado. Acho que é possível fazer mais e avançar-se não só com uma entrevista olhos nos olhos mas também presentear o homenageado com outros "mimos", como a presença de pessoas queridas em estúdio, vídeos...
Noticiou-se que poderia vir a apresentar o reality showCasa dos Segredos. Aceitaria?
Não sou pessoa talhada para apresentar reality shows. Na altura, especulou-se muito sobre isso mas foi claro para mim e para a TVI que eu não era a pessoa talhada para o fazer. Acho que os reality showsexigem um tipo de experiência e têm muito que ver com a personalidade do apresentador. Refiro-me a este Casa dos Segredos, TVI, mas há milhares de outros que acho que a minha personalidade se encaixava.
Quer dar um exemplo?
O Peso Pesado que foi exibido na SIC. Esse acho que tinha características para fazer e outros que vejo no cabo e que também acho que tenho personalidade. Mas a Casa dos Segredos é diferente porque exige um tipo de relação do apresentador com os intervenientes. A Teresa Guilherme é quem faz isto de forma sublime!
E sem ser a Teresa Guilherme, não elege uma outra sucessora dos reality shows?
Eu acho que ela é a grande referência. E se virmos um realityshow apresentado por ela vemos que ela prepara tudo meticulosamente. Ela absorve tudo e faz aquilo com um grau de atenção... Quando vejo o programa, vejo quão brilhante é a Teresa.
Uma outra comunicadora e apresentadora de televisão a quem sempre atribuiu elogios é a Júlia Pinheiro. Que crítica faz ao programa Querida Júlia, exibido na SIC?
É um programa com traços normais dos programas da manhã. Não tenho nenhuma crítica a fazer. A Júlia [Pinheiro] é uma ótima apresentadora.
Gostava de vir a assumir um cargo de diretora de formatação e conteúdos na TVI tal como o fez Júlia Pinheiro enquanto trabalhou na TVI?
Não, neste momento não. A fazer um talk show diário não sobra muito tempo para exercer e desempenhar esse cargo com igual competência. Tem de haver tempo para fazer as coisas, não gosto de estar com um pé dentro e outro fora. Fazer um programa diário é algo muito absorvente e no que toca ao meu, embora sejamos líderes desde o primeiro dia, procuramos perceber onde e de que forma o programa pode ainda evoluir.
Imagina-se a trabalhar, um dia, só atrás das câmaras?
Não. A minha praia é mesmo apresentar e estar à frente das câmaras. Para já, sou feliz a apresentar programas. E gosto muito de ser um elemento interventivo e criativo. Faço questão de estar nas reuniões de preparação do programa, de acompanhar a equipa e de dar também ideias.
A televisão portuguesa está no bom caminho no que toca a programas de entretenimento einfotainment?
Temos bons programas de entretenimento e A Tua Cara Não Me É Estranha é um exemplo disso. E A Tarde É Sua, peço desculpa pela falta de imodéstia, mas é um programa de excelente qualidade.
Quais são as suas referências internacionais?
Gosto de ver a apresentadora Ellen DeGeneres, porque faz coisas com piada. Ela faz uma mistura muito equilibrada entre as coisas sérias e o humor. E também gosto de ver a Oprah Winfrey. Foi com a Oprah que aprendi mais ao ver televisão e com a Ellen aprendi a perceber que desconstruir uma conversa é uma ótima arma para pôr as pessoas a falar.
"Abdicaria de parte do meu ordenado para salvar postos de trabalho"
A falta de recursos afeta toda a indústria televisiva. E a Fátima? Está também a trabalhar com cortes de orçamento?
Sim. Toda a gente. Não há ninguém nem nenhuma empresa, seja estatal ou privada, em Portugal que não tenha feito ajustes orçamentais. E a que não fez é porque não foi consciente.
Abdicaria de parte do seu ordenado para salvar postos de trabalho?
Sim, claro.
E porquê?
Porque se trata, exatamente, de salvar postos de trabalho. Não há mais a dizer.
É, dia após dia, a companhia diária de milhões de portugueses. Em tempo de crise profunda, as pessoas pedem-lhe ajuda na rua?
As pessoas pedem-me muitas vezes ajuda, mas não é uma ajuda financeira. Quando me abordam é para as ajudar a resolver uma determinada situação, como encontrar emprego ou ajudar uma criança que está numa lista de espera do hospital.
E como é que reage?
Eu trago sempre os contactos telefónicos comigo para, se fizer sentido segundo a linha editorial do programa, usar. Mas não digo às pessoas: "Dê cá isso que vou resolver!" Eu não sou a supermulher. O que costumo dizer é: "Nós vamos ver, mas não lhe prometo nada!" Acho que não há nada pior do que prometer mundos e fundos e depois não ser possível fazer alguma coisa.
A atual crise económica do País trouxe mudanças ao seu dia a dia? Fizeram-lhe repensar custos?
Não, porque sempre fui superpoupada e super-organizada. Foi a educação que me deram.
E é essa a ideia que transmite aos seus filhos, Beatriz, 12 anos, e Filipe, três anos?
A minha filha Beatriz é o resultado evidente da educação que recebeu. Ela nunca pede coisas. Ela diz-me: 'Mãe, eu preciso de umas calças!'. E se ela diz que precisa é porque precisa mesmo. Atitudes consumistas? Não, obrigado. Eu também poderia jantar fora todos os dias e não o faço. Não o faço por dois motivos: em primeiro lugar, acho que é um desperdício de dinheiro e, em segundo, porque acho que é muito importante criar uma família que colabora até a fazer o jantar. A educação que eu passo aos meus filhos não tem que ver com a atual crise. Fui educada a reciclar, a poupar, a reutilizar na comida. Eles veem-me a inventar pratos com restos que sobraram do dia anterior, e então? Isto é respeito por nós e pelos nossos filhos e pelo nosso planeta! Vive-se uma cultura de futilidade... O que é que me importa que os outros tenham um Porsche? Eu sou tão desligada. E, às vezes, até me dizem: "Fátima, não podes ser assim. Tu és figura pública!"
E nem esses comentários a movem...
Acho que em Portugal se dá demasiada importância ao parecer. Não interessa se não há comida na mesa, o que importa é ter um carro melhor do que o do vizinho. O importante é ter aquelas calças de marca. Este tipo de pessoas vivem para o parecer e normalmente são pessoas infelizes. No dia que lhes falta o dinheiro para investir no parecer... Mais vale investir nos afetos, no estarmos juntos, e é isso que eu cultivo.
Qual é o maior amor: a família ou a carreira?
Gosto muito de ser apresentadora, mas podiam dar-me tudo como apresentadora que, se não tivesse a minha família, iria ser a criatura mais infeliz do mundo.
É casada com o enfermeiro Luís Morais desde 2005. Qual o balanço que faz destes sete anos de casada?
É o melhor.
Ainda se preocupa em manter a "chama acesa". É uma mulher romântica?
Claro! (risos) Se nos preocuparmos só com a correria do dia a dia, onde é que as relações vão parar? Há que ter essa preocupação e eu e o Luís tentamos ter tempo só para nós. Se ele quer fazer qualquer coisa como ir jogar futebol, eu fico com os miúdos. Mas também há momentos em que ficamos só nós e vamos ao cinema e, de vez em quando, tiramos um fim de semana para viajarmos juntos. O Filipe ainda é pequenino, mas a Beatriz já entende tudo lindamente.
E a Beatriz já lhe falou de namorados?
Sim, já falou. Eu e ela temos uma relação muito gira (risos). Conversamos e rimo-nos as duas imenso...
E não fica com o coração apertado?
Não. Ainda não (risos). Há de chegar essa altura... (gargalhada).
Qual é o maior medo no que toca à família?
Perdê-los.
Quem é a sua grande referência na família?
Não gostava de personalizar e apontar nomes. Respondo: a minha família. O meu pai, a minha mãe, a minha irmã, o meu marido, os meus filhos... Tenho um plano onde entram ainda umas boas pessoas e que são muito importantes para mim. Para mim, a dor maior é perder quem amamos profundamente. Essa é aquela dor com que nenhum ser humano está preparado para lidar.
"Não tenho muitas amigas. Tenho uma malha muito apertada".
Porquê?
Não me identifico com falta de valores e há valores de que não abro mão. As pessoas que chegam ao meu coração são de muito valor e tiveram de passar por muitos testes para lá chegar. Uma vez lá, dificilmente de lá vão sair, mas até lá chegarem tenho de ter a certeza que são, essencialmente, boas pessoas. Não tenho muitos amigos e amigas, mas os que tenho são bons e são para a vida. E são esses que me fazem falta. Não tenho conflitos com ninguém. Nunca me meti em confusões.
Não há nada que a tire do sério?
A falta de verdade e honestidade. No que toca à falta de verdade, apetece-me comer a pessoa viva, basicamente! Se pudesse, comia-a viva (risos). Não podendo, viro-lhe as costas, mas, claro, antes digo tudo na cara. Eu nunca levo desaforos para casa.
E não tem nenhum inimigo?
Acho que não, pelo menos que eu saiba. Mas, se tiver, que apareça e diga olá.
Sente que deve um pedido de desculpas a alguém?
Não. Quando acho que devo um pedido de desculpas, faço-o. Não me interessa se é no trabalho, em casa ou a uma pessoa mais nova ou mais velha.
Estreou-se na SIC, em 1994, com o programa Perdoa-me. O que há ainda dessa jovem comunicadora na atual Fátima Lopes?
Tenho em mim a mesma vontade de fazer bem, de aprender, de crescer e a mesma humildade.
Conduziu na SIC os programas Perdoa-meAll You Need Is LoveSurprise Show e SIC 10 Horas. Acha que algum destes formatos teria sucesso nos dias de hoje?
O programa Surprise Show teria seguramente êxito. Fazer surpresas? Realizar sonhos? Numa altura destas? É o que se quer.
Fica aqui a mensagem para a TVI?
Fica a mensagem para quem a quiser apanhar (gargalhadas).

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