segunda-feira, 23 de julho de 2012

Entrevista a Sara Pra

Sara Prata: "Não ambiciono ser protagonista"
A atriz que dá vida à problemática Patrícia de Louco Amor (TVI) é a antítese da sua personagem. 'Descomplicada' é a melhor palavra para definir Sara Prata que, aos 27 anos, se sente feliz na profissão que a escolheu e no amor que vive ao lado de João Rodrigues.
A Sara já disse que a Patrícia é a personagem mais desafiante que já fez. Porquê? Porque me trouxe a responsabilidade de entrar num novo universo. Até então eu tinha feito de boazinha, tive um lado mais cómico com a Susana em Espírito Indomável, personagens com um lado mais normal. A Patrícia obriga-me a ir a algumas emoções que ainda não tinha experienciado em televisão. Brincar nesse novo universo é um grande desafio. Dá-me um medo gigante porque não sei se já tenho armadura para a enfrentar, para conseguir chegar ao lado humano que também lhe quero dar. Não acho que as personagens têm de ser só más ou só boas. Preocupo-me que elas tenham um caminho.
Como é uma personagem que tem um desequilíbrio, preocupa-a que ela se torne caricatural? Um bocadinho. Acho que tenho a responsabilidade de transmitir ao público coisas reais que o faça acreditar que aquilo existe. Quando se toca em alguns temas que existem ( há pessoas que sofrem de psicoses, de sofrimentos que levam àquele extremo de loucura), incomoda-me não ser real.
Receia levar a sua personagem para casa? Não, porque acho que consigo distanciar o que é o trabalho e o que é a pessoa. Eu tenho gozo em trabalhar. Eu não tenho de ser aquelas pessoas. Tenho gozo em ser a Sara e dá-me muito mais prazer experimentar e sair do que, de repente, "estou muito mal e vou cortar os pulsos, a Patrícia dá-me a volta à cabeça!'. Não! Um ator tem de estar do lado de fora para avaliar se aquilo é credível ou não. Se me deixo envolver, deixo de ser atriz para ser um ser perturbado. Eu não acredito nessa forma de trabalhar. Respeito, mas não é a minha maneira de trabalhar.


Isso vai contra a ideia preconcebida que temos de qu e o ator se deixa absorver por completo pela personagem. Isso tira um bocadinho a credibilidade de que ser ator é uma profissão. É uma profissão com paixão, mas é a nossa profissão. E temos de ser responsáveis por ela.
Como é voltar a fazer par romântico com José Carlos Pereira, sete anos depois de Morangos com AçúcarEu gosto muito de trabalhar com o Zeca porque somos amigos, cúmplices, ajudamo-nos um ao outro. Estamos no mesmo patamar. É bom sentir que estamos um com o outro e não um contra o outro... o que acontece muitas vezes (risos).
É bom tê-lo de volta depois da fase complicada que ele teve na vida pessoal? Sou amiga dele, mas nunca me afetou a vida pessoal do Zeca. No trabalho, nunca senti o regresso do Zeca, porque para mim ele é como sempre foi. Ele é muito humano, é uma pessoa extraordinária e se há alguém a quem ele faz mal é a ele mesmo.
Porque é que acha que os portugueses já não preferem ver apenas as novelas da TVI? Não nos podemos esquecer do aumento repentino da TV por cabo. O público está cada vez mais exigente e estamos a tocar numa nova geração que tem tantas opções que, muitas vezes, acaba por ver novos produtos. É a procura do "quero seguir esta ou aquela história?". Depois, infelizmente, as histórias são todas muito parecidas e acaba-se por não se agarrar uma nova geração. Sei que a SIC tem feito um grande investimento, mas acho que a TVI continua a ser a base da ficção nacional. Continuamos a evoluir e isso sente-se nesta novela. Mesmo que haja luta, a TVI ainda é a mãe da ficção nacional.
Essa luta é estimulante para os atores ou para vocês é indiferente? Posso responder por mim. Obviamente que é bom saber que estamos à frente. No entanto, nós, atores, não nos podemos basear nisso. Louco Amor tem sido uma novela com boas audiências, por isso é bom saber que estou num projeto que está a correr bem e a ter sucesso. Ninguém gosta de estar num projeto com poucas audiências. Mas não me foco nisso para trabalhar.
Mas calculo que como qualquer ator a Sara tenha a ambição de ser protagonista... Não, não tenho. Plim (risos)! Acho que os super-heróis só têm uma meta: serem super-heróis. Os super-heróis não podem deixar de o ser, enquanto outras personagens, um vilão, por exemplo, pode ter um acidente, ficar paraplégico e tornar-se mais frágil. Acho que todas as outras personagens que enriquecem o protagonista acabam por ter momentos mais interessantes do que o caminho do protagonista. Em Espírito Indomável eu não era protagonista e ainda bem, porque pude divertir-me imenso. A Susana começou por ser uma dondoca para ficar apaixonadíssima pelo Tristão, feio, mau e sujo. Se calhar, se fôssemos protagonistas, muitas das coisas não podiam acontecer. Gosto de papéis secundários porque, lá está, só em Portugal se diz "papel secundário". Em inglês é supporting actor (ator de suporte), aquela história precisa de existir. E acho que essas histórias são mais interessantes de serem construídas.


Em Portugal há um leque bastante alargado de atores, mas os protagonistas das novelas são quase sempre os mesmos. Porque é que isso acontece? Não serei a melhor pessoa para responder a isso porque sou apenas atriz, não faço escolhas. Mas não sinto que sejam sempre as mesmas caras. Obviamente que a TVI trabalha com um grupo de atores, e esta é uma empresa. Tem o seu grupo e tem de gerir o trabalho com os que tem. São apostas da TVI e ainda bem que assim é. Se eu sentisse que estava numa casa onde a minha carreira começava e a seguir iam buscar outra cara, isso seria péssimo. Ainda bem que estou numa casa que respeita o meu crescimento de carreira. A brincar, a brincar, já estou aqui há sete anos. Acho que sei muito pouco, mas, se olhar para todas as coisas que fiz... que bom! Há um cuidado em gerir novas carreiras e isso é muito bom.
A Sara tem vínculo exclusivo com a TVI desde 2009. Quando é que termina o seu contrato? Só para o ano que vem.
E já falaram de renovação? Ainda não porque falta um tempinho. Espero que isso aconteça, estou a fazer figas para que sim. Porque dentro da instabilidade da minha profissão o mais que posso desejar é alguma estabilidade. Foi uma surpresa conseguir isso tão cedo e foi muito bom ter esse apoio para começar a crescer sem medos. E, como também acho que tenho correspondido às expectativas da TVI, não faz sentido para mim deixar a estação. É a casa onde quero trabalhar.
Como foi reencontrar a Becas no filme dos Morangos com AçúcarFoi muito giro! Foi literalmente uma viagem no tempo: o ir buscar as roupas às caixas, porque eu guardei imensas coisas dela. Só o abrir a caixa foi andar para trás. E estar lá com a mesma equipa... já me tinha esquecido do rigor que é exigido nos Morangos... O estar com colegas mais gordos e carecas, ou mais magros e mais bem formados... Foi interessante também estar com miúdos que ainda têm os sonhos todos e que estão cheios de medo se conseguem ou não que resulte... Estou curiosa por ver osMorangos com coca-cola e pipocas!
Concorda com o final da série? Não concordo com o final do formato. Acho que é necessário tapar essa lacuna daquela faixa etária que está à procura de modelos, de identificação. Se não, esse público vai passar para o cabo. Percebo o fim dos Morangos, não percebo e não quero que acabe o produto. Acho também que a imprensa e as opiniões levaram ao fim da série. Porque, quando os Morangos ainda tinham audiências, começou logo a dizer-se que o produto estava gasto. E depois as pessoas começam a acreditar. E de acreditarem até acabar, é um passo.
Como é que se consegue manter a cabeça no lugar no meio televisivo e não ceder ao deslumbramento? Não é difícil. Temos de ser seguros de nós mesmos e sentirmos que não somos o centro do mundo. Não dou forças ultrassupremas a mim mesma. Deixo-me ser só aquilo que sou. Sou só atriz na TVI e fico tão feliz por isso. Mas sou apenas um ser. A fama é o agradecimento das pessoas que gostam de nos ver.
Já se sentiu prejudicada pela falta de profissionalismo de colegas seus? Claro que sim, muitas vezes. Mas isso também faz parte do crescimento da pessoa, sabermos dar a volta, trabalhar, permitir que isso aconteça porque não somos todos iguais. Mas eu, garantidamente, posso dizer que sou das poucas pessoas que leem todos os episódios, todas as cenas de todas as pessoas, que sei tudo de todas as personagens. Sei de onde e venho para onde vou, raccordemocional, raccord de momento e sei que também sou muito exigente. Portanto, é normal que às vezes escorregue no não profissionalismo das outras pessoas. Mas não me preocupo com isso, divirto-me a trabalhar.
A Sara e o João Rodrigues reataram a relação há um ano. É o homem da sua vida? Não sei (risos)! Só posso responder quando morrer. É a pessoa que quero ter ao meu lado. É meu amigo, meu companheiro. Não exijo nem de mim, nem da minha relação, nem do próximo. Quando damos conta já é sexta-feira. Portanto, quando se dá conta já passaram muitos anos. Não sei se é o homem da minha vida, não questiono sequer isso.
Sente-se uma mulher bonita? Não sei... (risos). Há, de facto, mulheres portuguesas muito bonitas, o estereótipo de beleza feminina é cada vez mais complicado de preencher. Mas há dias em que me sinto bonita, outros que não. Claro que com os truques de maquilhagem acabo por... Sim, sinto-me uma mulher bonita, para quê tanto rodeio! Sou saudável, tenho duas pernas, tenho dois braços, está tudo bem!
Se fizessem um filme da sua vida, que atriz escolheria para o papel de Sara Prata? Tinha de ser uma pessoa muito leve, cheia de energia. Uma Charlize Theron e, nos anos mais jovens, uma Winona Ryder... Assim uma mulher, mulher!

Sem comentários:

Quer ser Colaborador?
Preencha o formulário e vê em breve se és o escolhido no blog.
  • Podes fazer uma noticia tua ou então uma rubrica. Não te esqueças a noticia tem de ser tua e não tirada de outro blog ou site. Não te esqueças na rubrica de ser uma ideia criativa mas também exclusiva, não pode estar presente em mais nenhum blog.